15 de maio de 2006

BARCELONA


Se olharmos para qualquer clube que consegue faturar mais de meio bilhão de reais por ano, certamente estaremos diante de poderosas marcas que representam não apenas um time de futebol, mas um grande negócio comandado por profissionais, executivos oriundos de importantes empresas multinacionais, acostumados a trabalhar em empresas familiarizadas com o mercado globalizado e a movimentar pequenas fortunas a cada plano de marketing que é posto em prática.

É claro que as particularidades do esporte -como a paixão, o fanatismo da torcida e o desempenho da equipe dentro de campo- precisam caminhar lado a lado do planejamento estratégico do clube.

E é justamente dentro deste cenário que se encontra uma das principais equipes do mundo, o Barcelona. Seu presidente, Joan Laporta, eleito em 2003, é um homem determinado a honrar as tradições do clube da Catalunha -região situada a nordeste da Espanha, com sete milhões de habitantes aproximadamente- e já mostrou possuir um faro aguçado para os negócios.

Em seus três anos de gestão, de acordo com recente reportagem publicada pela revista América Economia (n° 320), Laporta duplicou o faturamento da agremiação, que saltou de 123 milhões para 240 milhões de euros (R$ 625 milhões) em 2005.

Se na década passada a receita principal do futebol vinha dos direitos de transmissão das partidas pela televisão e antes disso das vendas de ingressos no Camp Nou, a realidade atual mostra que o faturamento do Barcelona tem origem em três pilares: jogos (32%), marketing (30%) e direitos de TV (38%).

Globalização

A decisão do Barcelona em atingir mercados internacionais foi tomada com base num relatório elaborado pelo clube que deu o alerta: o futebol deveria ser encarado como um produto da indústria do entretenimento e, por isso, teria de ter um alcance global e não mais ficar restrito ao âmbito regional.

A estratégia adotada pelas equipes da Europa, para poderem alcançar cifras vultosas foi entrar nos grandes mercados como a Ásia e os Estados Unidos, que tenham interesse pelo futebol, explicou o vice-presidente econômico do Barcelona, Ferran Soriano.

O executivo do clube onde atua Ronaldinho Gaúcho revelou à revista que um treino, durante a pré-temporada do time no Japão, por exemplo, recebe 40 mil fãs que fazem de tudo para agradar os jogadores, inclusive cantando em catalão. Para não esfriar a paixão desses torcedores os times europeus comercializam a transmissão dos seus jogos pela TV e ainda abastecem esses países com produtos oficiais de tudo quanto é tipo.

Apesar da América Latina não ser o foco de ação comercial do Barcelona, ainda assim o carisma do clube azul-grená no Brasil é alto. Basta observarmos a audiência dos seus jogos, que foram vistos por 28 milhões de telespectadores, na última temporada, deixando para trás o seu maior rival, Real Madrid e o Milan de Kaká.

Fidelidade

O Barcelona é o único grande clube do mundo que não exibe (por opção própria) patrocínio em sua camisa. Em compensação, também é um dos raros times que pode se dar ao luxo de contar com 135 mil sócios fiéis, que pagam 150 euros anuais (segundo a América Economia) e têm vários benefícios.

Outro fato significativo diz respeito ao turismo espanhol, que é um dos mais fortes do mundo e que tem nas dependências do Barcelona uma das principais atrações da cidade. O museu do clube, por exemplo, recebe mais visitantes que o de consagrados artistas como Miró e Picasso, que deixaram nos cofres do clube 5 milhões de euros no ano passado, sem contar as vendas da loja com produtos oficiais.

Para os clubes brasileiros interessados em trilhar o mesmo caminho do Barcelona, a principal recomendação feita por Ferran Soriano (que já viveu em São Paulo durante dez anos) é melhorar as instalações dos estádios do país. Este salto de qualidade não é um sonho muito difícil de acontecer, até porque o Brasil pode ser a sede da Copa de 2014, o que seria uma ótima oportunidade para o futebol canarinho se fortalecer financeiramente e, desta forma, conseguir manter os grandes craques no país.

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