15 de dezembro de 2006

Viva a Poluição Visual, por Francesc Petit (DPZ)


O modo como a Prefeitura de São Paulo quer combater a poluição visual na cidade é uma atrocidade com toda uma classe de publicitários

A maneira como a Prefeitura de São Paulo pretende combater a poluição visual na cidade, banindo toda propaganda externa -outdoors, cartazes, backlights, banners, painéis etc.-, representa uma atrocidade a toda uma classe de publicitários, em especial aqueles conhecidos no meio como diretores de arte, artistas que se dedicam à publicidade e que têm nos cartazes de rua sua mais antiga e tradicional ferramenta de trabalho. E também a mais instigante de todas.
Pois é nesse veículo de comunicação, o cartaz de rua, que se pode mostrar todo o talento e a criatividade de um publicitário. Isso porque um bom cartaz deve ser a síntese absoluta de uma idéia publicitária, em que só cabem uma imagem e, no máximo, cinco palavras que definam o propósito da peça publicitária. Deve ser explicativo no tempo máximo de três segundos para vender a idéia e ser lembrado por um longo tempo. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível, mas que muitos diretores de arte sabem fazer com maestria. Será que, quando a prefeitura decidiu proibir os cartazes de rua, não lembrou, nem por um instante, o quanto são importantes na vida comercial e cultural os "cartazistas", herdeiros de uma arte que vem do século 19, quando, graças ao surgimento da litografia, se passou a imprimir cartazes coloridos com uma reprodução de altíssima qualidade? Peças que hoje enchem museus em todo o mundo e coleções particulares de grande valor. Reproduções dessas obras de arte são vendidas nas melhores livrarias, por seu valor estético e cultural. Só para lembrar aos senhores encarregados da proibição da propaganda externa, aí vão alguns nomes de pessoas que se dedicaram a essa modalidade de "poluição visual": Toulouse-Lautrec, Pablo Picasso, Joan Miró, Pierre Bonnard, Saul Bass, Paul Rand, Shigeo Fukuda, Ikko Tanaka, Bruno Munari, Pierre Fix-Masseau, Walter Gropius, Lucian Bernhard, Max Bill, Beggarstaff, Alphonse Mucha, Raymond Savignac, Steinberg, Ramon Casas, Paul Colin, Peter Max, Hans Rudi Erdt, Piatti, Franco Grignani, Henry van de Velde, René Gruau, Herbert Matter, Milton Glaser, Cassandre e muitos outros que, como nós, adoramos fazer belos cartazes para a beleza da cidade e alegria do povo. Ao contrário de São Paulo, Paris tem orgulho de seus cartazes. Não posso imaginar que tipo de pesquisa ou análise foi feita sobre a poluição de São Paulo, quem fez esse levantamento, como se chegou à conclusão de que os publicitários são os culpados. Talvez seja porque, hoje em dia, somos culpados de tudo: acidentes de trânsito, obesidade, anorexia, sexo e violência. Até na política viramos inimigos da sociedade. De uma coisa estou absolutamente certo: não são os cartazes de propaganda que estão poluindo São Paulo. O drama do caos visual de São Paulo está em outro lugar, em muitos outros lugares que não se podem mostrar. Não é politicamente correto apontar a causa porque é tão gigante o pepino que não vale a pena discutir. É mais fácil apontar Ferraris e Mercedes como responsáveis pelo excesso de veículos circulando pela cidade. Fico muito orgulhoso de poluir a cidade de São Paulo com meus cartazes e outdoors para meus clientes, poluição que chega ao absurdo de ser premiada aqui e no exterior e exibida na mais importante exposição feita em Paris, no Gran Palais, entre os cem melhores cartazes do século 20. Pura poluição. Viva ela.

FRANCESC PETIT, 72, publicitário e artista plástico, é sócio-proprietário da agência DPZ.

5 comentários:

  1. Anônimo1:52 PM

    Inicialmente peço desculpas pela não atualização deste site nos últimos dias!

    Não fique brava, Helena!

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  2. Seção Cartas, do Jornal Folha de São Paulo

    Poluição visual

    "Francesc Petit é um publicitário premiado, genial e ganha seus milhões todo ano. Eu também sou publicitário, pouco atuei na área e hoje sou microempresário. Quase nada temos em comum, mas temos algo em total desencontro: a praga da publicidade em espaço público ("Viva a poluição visual", "Tendências/ Debates", 9/11).

    Tão feio quanto o uso da requentada tese de que, "se tudo está ruim, para que melhorar um pedacinho?", é também o uso de personagens históricos para respaldar uma polêmica contemporânea.

    Tenho certeza de que muitos dos artistas lembrados não endossariam o texto de Petit. Ademais, estamos falando de negócio, e não de arte.

    Meus olhos não recebem comissão pelo emporcalhamento feito por empresas de publicidade. Tampouco aprovam muitos dos apelos utilizados por esse tipo de mídia."

    JORGE HENRIQUE SINGH (São Paulo, SP)

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  3. Obrigada Sergio por postar |! Você pode, pois é sócio majoritário do Reality !1
    beijos

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  4. Anônimo1:56 AM

    a publicidade e um negocio como outro qualquer e os publicitarios se acham seres supremos procurem historias desses senhores pois ha um mundo de falsidade e corrupicao en todos os niveis desse negocio chamado publicidade.

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  5. sergio11:34 AM

    "adoramos fazer belos cartazes para a beleza da cidade e alegria do povo"
    hahahahaha

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